Trancados em nossos casulos privados, a mídia passou a ser a principal maneira de imaginar como são as outras pessoas, e, como consequência, esperamos que todos os estranhos sejam assassinos, golpistas ou pedófilos — o que reforça o impulso de confiar apenas nos poucos indivíduos que já foram selecionados por redes familiares e de classe.
Naquelas raras ocasiões em que as circunstâncias (nevascas, tempestades) conseguem romper nossas bolhas herméticas e nos jogam junto a pessoas que não conhecemos, tendemos a nos maravilhar quando os concidadãos demonstram pouco interesse em nos cortar ao meio ou em molestar nossos filhos e que podem até mesmo ser surpreendentemente gentis e se mostrar dispostos a ajudar.
Alain de Botton, em “Religião para ateus”, cap. 2.