Compreenda as necessidades de cada um em uma relação

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Uma boa comunicação é a chave para a felicidade em qualquer tipo de relacionamento. Trata-se de entendermos as necessidades dos outros e ter as nossas necessidades compreendidas. E isso é uma habilidade que pode ser aprendida, fortalecendo nossas conexões com as pessoas ao redor.

Por que fazer isso?

Comunicação é o coração de qualquer boa relação. Compartilhar nossos pensamentos e necessidades e ouvir as dos outros é essencial para formar relacionamentos próximos e nos sentirmos valorizados e compreendidos.

A boa comunicação precisa ser uma via de mão dupla: é preciso haver uma pessoa se expressando e outra pessoa ouvindo. Parece simples, mas as dificuldades dos relacionamentos são frequentemente causadas por comunicação deficiente. Ou é difícil expressar quais são nossas necessidades ou falhamos em ouvir as necessidades da outra pessoa.

Todos nós possuímos necessidades semelhantes; por exemplo, precisamos ser tratados com respeito, sentir que pertencemos, viver com alegria e nos sentirmos seguros. Se tivermos um entendimento mais claro das necessidades que guiam nosso comportamento e o das outras pessoas, teremos mais chance de criar relações mais ricas, profundas e positivas.

Esse tipo de entendimento é importante, seja quando estamos dizendo coisas boas, pedindo alguma coisa ou explicando porque algo está nos incomodando. Se estamos com raiva de alguém, isso acontece porque temos algumas necessidades fundamentais que não estão sendo atendidas. Se não explicarmos nossas necessidades, a pessoa pode interpretar de forma errada o porquê de nossa raiva, e é mais provável que ela também fique com raiva ou chateada em troca. Isso pode levar a uma espiral de mal-entendidos.

Em vez disso, se reconhecermos nossas necessidades e a dos outros, temos a oportunidade de ver o que está por trás do modo como as pessoas agem. Também teremos mais chance de ter nossas próprias necessidades atendidas se pudermos expressá-las claramente. Trata-se de ter empatia com a outra pessoa e convidá-la para que também tenha conosco — ser aberto e honesto.

Por onde começar?

Uma abordagem efetiva para ajudar na comunicação é usar a “comunicação não-violenta” (CNV). Essa técnica foi criada pelo psicólogo Marshall Rosenberg e ajuda a aprofundar nossas ligações com os outros através da construção do respeito, empatia e compreensão. A abordagem da CNV é baseada nos princípios da não-violência e compaixão. Ela tem sido usada para construir relacionamentos e resolver conflitos em todo o mundo. Então por que não experimentar?

O ponto de partida da CNV é o fato de sermos compassivos por natureza. Assume-se que todos nós compartilhamos as mesmas necessidades humanas básicas e que cada uma de nossas atitudes ou comportamentos é uma estratégia para atender a uma ou mais dessas necessidades.

Muitas das dificuldades nas relações vêm de não explicarmos claramente quais são nossas necessidades ou de alguém sentir que suas necessidades não estão sendo atendidas. A CNV fornece uma estrutura simples que nos habilita a identificar e comunicar nossas necessidades em cada uma das situações.

Sentimentos e emoções são desencadeadas em resposta às nossas necessidades fundamentais. Para ajudar a entender nossos sentimentos, olhamos o que está por baixo deles: nossas necessidades e valores. Um ponto chave da CNV é que, como indivíduos, somos responsáveis pelos nossos próprios sentimentos. Outras pessoas podem influenciá-los, mas a escolha sobre como reagimos é nossa. Só de estarmos mais conscientes das necessidades por trás de nossas reações emocionais e as dos outros já ajuda a nos comunicarmos melhor.

Princípios básicos da comunicação não-violenta

Quando alguém faz algo que nos incomoda ou aborrece, podemos utilizar os princípios da CNV para refletir sobre as causas do problema e nos comunicarmos efetivamente.

  1. Ouça seus julgamentos. Nós, muitas vezes, saltamos em direção a conclusões sobre o que está por trás do comportamento de outra pessoa. Se agirmos com base nesses julgamentos, sem entender as necessidades reais da pessoa, isso pode levar a mal-entendidos e discórdia. Portanto, tente observar o que você está dizendo a si mesmo sobre o porquê de alguém estar fazendo algo.
  2. Identifique os fatos. Desfaça quaisquer julgamentos. Tenha uma perspectiva neutra e tente descrever a situação do jeito que uma pessoa neutra faria.
  3. Dê nome a seus sentimentos. Descreva como você se sentiu quando isso aconteceu.
  4. Declare suas necessidades. Identifique e explique as necessidades básicas que levam a esses sentimentos.
  5. Faça seu pedido. O que a outra pessoa poderia especificamente fazer para atender suas necessidades? Observação: ela pode não ser capaz ou não querer fazer aquilo que você pedir, mas fazer o pedido já é um ponto de partida claro para encontrar um acordo que beneficie ambos.

Assim, somando essas etapas, podemos comunicar o seguinte:

“Quando você faz … [observação], eu me sinto … [sentimentos], porque preciso de … [necessidades]. Eu realmente apreciaria se você estivesse disposto a … [solicitação]”

Exemplo de comunicação não-violenta

Aqui está um exemplo de como a abordagem da comunicação não-violenta pode ser usada para lidar com uma questão frustrante.

Situação: seu parceiro, colega de apartamento ou filho deixou suas roupas sujas no chão do banheiro, de novo!

  1. Ouça seus julgamentos. Isso é o que você pode estar dizendo a si mesmo: “Ele é tão bagunceiro e desorganizado. Realmente precisa aprender a cuidar de si mesmo e assumir mais responsabilidade por manter o lugar arrumado. Ele sempre espera que eu arrume tudo.” Se você reagir imediatamente com base nesse tipo de julgamento, isso pode levar a um conflito, sem que a outra pessoa compreenda por que isso é importante para você.
  2. Identifique os fatos. Descreva o comportamento de uma forma sem julgamentos, por exemplo: “Quando você deixa suas roupas sujas no chão do banheiro …”
  3. Dê nome aos sentimentos. Explique como esse comportamento faz você se sentir, por exemplo: “Eu fico realmente chateado e incomodado…”
  4. Declare suas necessidades. Tente explicar a necessidade que faz você se sentir desse jeito. Assim, você pode dizer: “… manter a casa arrumada cria um ambiente melhor para todos nós. Quando você deixa suas roupas espalhadas, parece que você não liga para a casa ou para o que é importante para mim.”
  5. Faça seu pedido: Finalmente, peça à pessoa para fazer algo diferente para evitar que isso aconteça. “Eu realmente apreciaria se você estivesse disposto a colocar suas roupas no cesto da lavanderia. Você acha que pode fazer isso?”. Quando fazemos um pedido, precisamos estar prontos para escutar o que a outra pessoa sente e quais são suas necessidades.

Dessa forma, ao combinar as etapas, poderíamos dizer:
“Quando você deixa suas roupas sujas no chão do banheiro, eu realmente fico chateado e incomodado. Manter a casa arrumada cria um ambiente melhor para todos nós. Quando você deixa suas roupas espalhadas, parece que você não liga para a casa ou para o que é importante para mim. Eu realmente apreciaria se você estivesse disposto a colocar suas roupas no cesto da lavanderia. Você acha que pode fazer isso?”

Embora as etapas da CNV sejam simples, elas exigem prática e paciência. Tente manter a conversa até sentir que foi compreendido e que compreendeu a outra pessoa, o que pode envolver algumas rodadas em que cada um expressa seus sentimentos e necessidades.

Referências
[1] Rosenberg, M. (2006). Comunicação não-violenta. Editora Ágora.

Imagem no topo: Arnold Lakhovsky, "The Conversation" (1935).

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