Imagem: Paul Gaughin, "Where Do We Come From? What Are We? Where Are We Going?".
(chave 6 entre as “Dez chaves para uma vida mais feliz”)
Pessoas que têm significado e propósito em suas vidas são mais felizes, se sentem mais em controle e se beneficiam mais daquilo que fazem. Elas também sentem menos estresse, ansiedade e depressão [1]. Mas onde encontramos “significado e propósito”? Pode ser nossa fé religiosa, o fato de sermos pais e mães ou realizar um trabalho que faça a diferença. As respostas variam para cada um de nós, mas tudo envolve estar conectado com algo maior que nós mesmos.
Por que significado importa?
Pesquisas científicas mostram que ter conexão com algo maior que nós mesmos — uma crença religiosa ou um lado espiritual em nossas vidas — nos torna mais felizes e saudáveis.
Estudos sobre pessoas que acreditam que suas vidas têm “significado” revelam que isso traz grandes benefícios para o bem-estar. Por exemplo, Martin Seligman – fundador da psicologia positiva – descreve “significado” como um componente vital da felicidade e bem-estar [8].
O que é “ter significado”?
Uma maneira simples de descrever do que se trata “ter significado em nossas vidas” é: fazer parte de algo que realmente acreditamos ser maior que nós mesmos [8]. Isso ajuda a responder à pergunta: por que estamos aqui? Em geral isso é algo que não pode ser negligenciado, e vai além do dia-a-dia. É um fator que nos guia sobre como viver nossas vidas, pelo que lutamos, e proporciona um contexto para as metas que estabelecemos. Pode nos ajudar a compreender o que acontece conosco, proporcionando uma fonte de conforto e força em tempos difíceis, além de nos ajudar a perceber que não estamos sozinhos.
Fé religiosa ou outra prática espiritual fornecem significado para muitas pessoas, e pesquisas sugerem que pessoas de fé tendem a ter médias maiores de felicidade e bem-estar do que outros sem nenhuma crença religiosa [10]. Mas religião e espiritualidade não são as únicas fontes de significado. Para muitos de nós, nossos relacionamentos com outras pessoas são a fonte principal de significado em nossas vidas – como pais, amigos e membros de uma comunidade (sobre isso, leia “Conecte-se com pessoas”).
Na verdade, um dos benefícios da crença religiosa é a conexão que vem do fato de sermos parte de uma comunidade que compartilha as mesmas ideias.
Outra fonte importante de significado inclui encontrar o seu “chamado” – um trabalho ou atividade pelo qual você é passional – ou ter uma conexão profunda com o mundo natural. O que é certo é que “significado” é algo muito pessoal. Ninguém pode nos dizer o que dá significado a nossas vidas – temos que descobrir por nós mesmos.
Como encontramos sentido?

Existem muitas maneiras de encontrar significado em nossas vidas. Para algumas pessoas isso vem através de experiências (normalmente difíceis) de vida; outros passam por profunda reflexão; para outras pessoas, amar e ser amados; e outros pela maneira como decidem se relacionar com as pessoas e o mundo à sua volta. Cada um de nós pode encontrar sua própria maneira – mas é crucial lembrar a importância do sentido quando fazemos grandes escolhas em relação à nossa família, trabalho, estilo de vida e prioridades.
Embora encontrar sentido tenha a ver com ligar-se a algo além de nós mesmos, isso também parece tocar algo fundamental dentro de nós. Para algumas pessoas isso se torna óbvio desde o início – por exemplo um chamado para ensinar, se tornar médico ou seguir uma fé em particular. Para outros, entretanto, é uma busca que pode durar toda a vida. E, às vezes, uma prática — como a meditação — pode nos ajudar a nos conectarmos melhor com nossos sentimentos e com nosso mais profundo ser.
Interessantemente, mesmo com fortes evidências de que ter significado em nossas vidas contribui para o bem-estar, há relativamente poucas pesquisas sobre a busca por significado. Alguns estudos até parecem sugerir que aqueles ativos na busca por sentido podem estar mais propensos a ansiedade e depressão [1]. Isso sugere uma situação do tipo “quem vem primeiro, o ovo ou a galinha?”, em que a busca frenética por significado implica normalmente sua falta.
Uma boa abordagem é refletir criteriosamente sobre quais atividades, pessoas e crenças nos trazem o mais forte senso de propósito passional. Então, podemos focar em garantir que daremos prioridade a essas coisas em nossas vidas tão ocupadas. Normalmente, estamos tão ocupados e apressados seguindo em frente que no fim do dia estamos exaustos, sem jamais encontrar tempo para pensar sobre o que realmente nos fornece significado.
As vezes só quando chegamos a algum estágio importante — tais como paternidade, meia idade ou aposentadoria; ou quando algo acontece para perturbar nossas vidas, como um trauma — é que nós começamos a pensar sobre as questões: por que estamos aqui? O que é realmente importante? Mas nunca é cedo (ou tarde) demais para começar a colocar as coisas realmente cruciais em primeiro lugar.
Espiritualidade: o que é isso?
Espiritualidade parece ser quase uma característica fundamental e universal humana, mas uma que é muito pessoal e subjetiva. É normalmente definida como os sentimentos, pensamentos e comportamentos que nos levam em direção e surgem da “busca pelo sagrado” [2].
Chris Peterson e Martin Seligman definem espiritualidade como uma “força universal de transcendência” [9], sublinhando que mesmo que o conteúdo de uma crença espiritual específica possa variar, elas têm em comum um senso de transcendência final, a “força sagrada” ou “divina” [2] [6].
Existem muitos caminhos para descobrir e experimentar a espiritualidade – ambos através de fé religiosa (como o cristianismo, hinduísmo, islamismo, budismo etc) ou caminhos não religiosos como, por exemplo, através da natureza, meditação ou práticas ligadas à criatividade.
Descobrir o seu “chamado”
A ideia de “sentir um chamado” originalmente tem conotações religiosas, mas recentemente essa expressão tem sido aplicada em um contexto não religioso para se referir a uma abordagem específica em relação a um tipo de trabalho [3].
Indivíduos que “sentem um chamado” encontram no trabalho uma fonte de significado pessoal e social. Eles consideram seu trabalho agradável em si mesmo e sentem que fazem uma contribuição valiosa para a sociedade ou a melhora do mundo de alguma maneira. Pessoas “atendendo um chamado” se sentem atraídas a perseguir o trabalho e pensar nele como o núcleo de sua identidade. É possível pessoas terem mais de um chamado ao mesmo tempo, tanto pelo curso de suas vidas ou mesmo simultaneamente [4].
É importante salientar que chamados não são restritos a empregos elevados ou com alto salário, podendo ser qualquer posição, em qualquer nível. A mesma ocupação pode ser encarada como um chamado por algumas pessoas, mas não para outras. Infelizmente, muitas pessoas tendem a encarar seu trabalho meramente como um meio para um fim: pagar suas necessidades e sustentar suas famílias (‘um emprego’), ou como uma rota de conquistas ou prestígio (‘uma carreira’), ao invés de ser uma fonte de real satisfação e significado [3].
Trabalhos encarados como “chamados” estão geralmente associados a benefícios como melhoria na satisfação com o emprego, vida e saúde, independentemente do nível de renda, educação ou tipo de ocupação. Pessoas atendendo chamados são menos propensas a sofrer com estresse e depressão ou ter conflitos entre o trabalho e outros aspectos de suas vidas [5]. Ser incapaz de atender um chamado tem sido relacionado a frustração ou remorso, o que pode minar o bem-estar psicológico e o desempenho profissional [4].
A busca pelo chamado pode provocar indecisão e confusão sobre nossa própria identidade. Entretanto, como nosso trabalho é uma grande parte de nossas vidas, normalmente vale a pena o desconforto de uma “busca pela alma”, que é encontrar seu verdadeiro propósito.
Referências [1] Stegar, M.F. (2009). Meaning in Life. In S.J. Lopez & C.R. Snyder (Eds.)Oxford Handbook of Positive Psychology. NY:OxfordUniversity Press. [2] Pargament, K.I. & Mahoney, A. (2009). Spirituality: the search for the sacred. In S.J. Lopez & C.R. Snyder (Eds.)Oxford Handbook of Positive Psychology. NY:OxfordUniversity Press. [3] Wrzesniewski, A. & Tosti, J. (2005). Career as a calling. In J. H. Greenhaus & G. A. Callanan (Eds.), Encyclopedia of Career Development. CA: Sage Publications. [4] Berg, J. M., Grant, A. M., & Johnson, V. 2010. When callings are calling: Crafting work and leisure in pursuit of unanswered occupational callings.Organization Science, 21: 973-994. [5] Wrzesniewski, A. (2010). Callings. In K. S. Cameron & G. Spreitzer (Eds.), In Handbook of Positive Organizational Scholarship. NY:OxfordUniversity Press [6] Snyder, C.R. & Lopez, S.J. (2007). Positive Psychology: The Scientific and Practical Explorations of Human Strengths. CA: Sage Publications [7] Averill, J. R. (2009). Emotional creativity: Toward "spiritualizing the passions." In C. R. Snyder & S.J. Lopez (Eds.), Handbook of positive psychology. NY:OxfordUniversity Press [8] Seligman, M.E.P. (2011). Flourish: A Visionary New Understanding of Happiness and Well-being. NY: Free Press [9] Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: A handbook and classification.New York:OxfordUniversity Press/Washington, DC: American Psychological Association. [10] Gallup(2010). Religious Americans Enjoy Higher Wellbeing. Gallup-Healthways Well-being Index.