Emoções positivas: cultive sentimentos construtivos

(chave 7 entre as “10 chaves para uma vida mais feliz”)

Emoções positivas – como alegria, gratidão, contentamento, inspiração e confiança (ou orgulho sem superioridade) – não são ótimas apenas no momento. Pesquisas recentes mostram que vivenciá-las com frequência cria uma “espiral ascendente”, que nos ajuda a construir os recursos internos. Então por mais que precisemos ser realistas sobre os altos e baixos da vida, focar nos aspectos positivos de quaisquer situações sempre ajuda: olhar a metade cheia do copo, em vez da vazia.

Emoções positivas nos aprimoram

Durante muito tempo, a função das emoções positivas foi um enigma. Embora sejam sentimentos agradáveis, não parecia que fossem vitais para nossa sobrevivência como espécie. Emoções negativas, por outro lado, sempre foram vistas como essenciais: nos ajudando quando enfrentamos ameaças, ao disparar a reação de “lutar ou correr”.

Quando avistamos um animal feroz prestes a nos atacar, sentimos medo e mudanças rápidas acontecem em nossos corpos e cérebros. Nosso foco de atenção instintivamente se reduz aos objetos perigosos e às possíveis rotas de fuga, nos levando a reações imediatas e particulares — neste caso, fugir o mais rápido possível!!

Pesquisas científicas inovadoras nos mostram, porém, que emoções positivas têm o efeito de ampliar nossas percepções, de maneira muito semelhante ao modo como as emoções negativas as limitam. Esse alargamento nos ajuda a visualizar melhor, reagir de formas novas e flexíveis, e a sermos mais criativos. Também nos torna mais abertos a diferentes ideias e experiências, e nos sentimos mais próximos e confiantes nas outras pessoas. [1][2]

E não para por aí. Sentir-se bem a curto prazo pode nos levar ao bem-estar de longo prazo. As novas experiências e maior abertura que resultam de emoções positivas podem levar a mudanças duradouras em nossas vidas [1]. Alguns exemplos:

  • O interesse por algo que lemos pode nos levar a aprender mais sobre tal tema, nos conduzindo a um hobby prazeroso ou mesmo ao trabalho mais recompensador de nossas vidas.
  • Rir das mesmas coisas que outra pessoa pode fazer com que ela se torne um amigo próximo ou mesmo um parceiro.
  • Sentir alegria ao ver árvores bonitas em um parque pode causar um estado de espírito positivo, e nos tornar mais entusiasmados sobre uma oportunidade que surgir pelo caminho [3].

Portanto, ao longo do tempo as emoções positivas nos ajudam a construir os fatores que levam a vidas mais felizes, como amigos, conhecimento, melhores formas de solucionar problemas e até boa saúde. Além disso, esses fatores podem agir como amortecedores contra o estresse e nos ajudar a enfrentar dificuldades [2]. Há também evidências de que as emoções positivas podem fazer com que nos recuperemos de forma mais rápida, ou mesmo desfazer os efeitos de emoções negativas [1][5].

Proporção positiva

Então qual quantidade de emoções positivas precisamos para receber os benefícios a longo prazo? Nosso objetivo deve ser nunca nos sentirmos mal? Não, não é realista ter a esperança de nunca sentir emoções negativas, afinal elas fazem parte da vida — talvez parte de cada dia — mas precisamos encontrar o equilíbrio certo.

Uma forma útil de pensarmos sobre felicidade é que no geral precisamos ter mais emoções positivas em comparação com negativas. Isso é chamado de proporção positiva [4].

E agora a ciência está nos dando algumas pistas sobre a dose correta a ser buscada. Aparentemente, para receber os benefícios das emoções positivas a longo prazo, precisamos ter três vezes mais emoções positivas do que negativas. Elas não precisam ser ondas imensas de felicidade; curtos e delicados pensamentos positivos também contam.

Obviamente que isso não é assim tão fácil. As conexões em nossos cérebros se formaram do modo como são hoje há muito tempo, quando ainda morávamos em cavernas. Era uma época muito perigosa, sendo necessário estar em alerta constante ao menor sinal de risco para nossa segurança ou sobrevivência, então desenvolvemos emoções negativas robustas como um sistema interno de alerta para situações em que algo pode dar errado [5].

Atualmente a maioria de nós tem vidas muito menos perigosas que nossos ancestrais. Infelizmente, porém, nossos cérebros ainda não se deram conta disso. Por isso precisamos fazer um esforço consciente em direção ao lado positivo da vida. A boa noticia é que pequenos esforços ao longo do tempo podem fazer uma diferença duradoura. Pesquisas recentes até sugerem que isso pode levar a mudanças persistentes em nossos cérebros, o que ajudaria a assegurar mais bem-estar [5].

Chegar ao ponto de equilíbrio

Sentir emoções positivas nos faz bem, então podemos nos beneficiar encontrando maneiras de gerar mais sentimentos positivos. Há evidências de que as emoções positivas são contagiosas e que quando nos sentimos bem, isso pode ter um efeito-dominó sobre aqueles que nos rodeiam. Portanto ao fazer coisas que nos ajudam a sentir-se melhor, podemos beneficiar os outros também [6].

Mas isso não significa que devemos investir toda energia apenas em diversão imediata, e esquecer das coisas que demandam mais esforço. Precisamos de um balanço saudável entre aproveitar o momento e fazer coisas que tragam sentido e satisfação a longo prazo.

Algumas evidências mostram que aproveitar o momento pode aumentar o quão felizes nos sentimos em todos os aspectos. Mas existem diversas emoções positivas e nem todas resultam de diversão. Por exemplo, algumas são sentimentos que temos quando estamos genuinamente interessados em algo, ou quando nos esforçamos ao máximo para alcançar uma meta. Outras surgem de momentos de tranquilidade, como alguns minutos de paz e sossego em um dia muito agitado.

Além disso, fazer coisas que trazem diversão imediata pode nos trazer uma sensação desagradável depois – como aqueles últimos drinks dos quais nos arrependemos na manhã seguinte! E com frequência escolhemos fazer coisas que nos frustram no momento, sabendo que no final isso trará satisfação. Então precisamos de um balanço entre bem-estar imediato e encontrar atividades que nos tragam grande felicidade a longo prazo.

Referências
[1] Garland, E. L, Fredrickson,B.L., Kring, A.M., Johnson, D.P., Meyer, P.S. & Penn, D.L (In press), Upward spirals of positive emotions counter downward spirals of negativity: Insights from the broaden-and-build theory and affective neuroscience on the treatment of emotion dysfunctions and deficits in psychopathology. Clinical Psychology Review.
[2] Cohn, M. A., Fredrickson, B. L., Brown, S. L., Mikels, J. A., & Conway, A. M. (2009). Happiness unpacked: Positive emotions increase life satisfaction by building resilience. Emotion, 9(3), 361−368.
[3] Kok, B.E., Catalino, L. I. & Fredrickson, B.L. (2008). The broadening, building, buffering effects of positive emotions. In S. J. Lopez (Ed.), /Positive psychology: Exploring the best of people: Vol. 3 Capitalizing on emotional experiences/ (pp.1-19)/./Westport, CT: Greenwood Publishing Company.
[4] Fredrickson, B. L. (2009). Positivity: Groundbreaking research reveals how to embrace the hidden strength of positive emotions, overcome negativity, and thrive. New York: Crown Publishing Group.
[5] Fredrickson, B. L. (2003). The value of positive emotions. American Scientist, 91, 330-335.
[6] Fowler,J., & Christakis,N. (2009) Dynamic spread of happiness in a large social network: Longitudinal analysis over 20 years in the Framingham Heart Study. British Medical Journal, 338 pp. 1-13