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Nossa compaixão natural pode nos salvar

Você já se sentiu impotente, deprimido, frustrado e até com raiva diante de problemas coletivos graves, como negligência com a pandemia, racismo, violência, desigualdade ou colapso ambiental?

Como é algo bastante desconfortável, é possível não apenas afundarmos nesses sentimentos negativos, mas, em o outro extremo, negar, evitar ou fingir que esses problemas não existem. E isso acontece de forma inconsciente até, como um tipo de mecanismo de defesa.
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Apoio para petição ambiental

“O atual desequilíbio ecológico extremo em que vivemos tem consequências que não se limitam à pandemia ou à fuga de investidores devido ao desmatamento na Amazônia.
As consequências das mudanças climáticas causadas pelo acúmulo dos gases do efeito estufa ameaçam a existência da civilização humana como conhecemos.”

Dentro do compromisso da Ação para Felicidade, de nos preocuparmos com o bem-estar alheio, não podemos ignorar a atual crise ambiental. Nos engajarmos em alguma causa também está ligado à chave do propósito.

Dentro desse espírito, sugiro aqui a assinatura de uma petição online de apoio a um projeto ambiental importante, para que se declare emergência climática no Brasil:

https://www.change.org/emergencia-climatica

A iniciativa é de um grupo irmão aqui da Ação (que tem alguns membros em comum), o XR + amor em SP.

Encontro em São Paulo em pleno Carnaval

Estivemos reunidos em um animado encontro hoje do grupo Ação para Felicidade em São Paulo (Bairro do Butantã) em pleno sábado de Carnaval. O tema do encontro foi introduzido como uma reflexão: O que mais importa na vida? A satisfação plena e a felicidade em nós mesmos e ao nosso redor são propósitos que podem nos guiar na vida. Emersom expôs o tema com serenidade e profundidade. Estudos científicos mostram que um dos fatores externos mais importantes para uma vida mais feliz são relações humanas de qualidade. Como fator interno, aparece o equilíbrio e a harmonia nas emoções e pensamentos. Após a explicação, houve um rico intercâmbio entre os participantes. Estávamos em onze pessoas.
Também praticamos a meditação de atenção plena e assumimos nossos compromissos para as próximas semanas. Saímos do encontro com sentimento de gratidão.

Alegria mais duradoura

Começamos a Ação para Felicidade no Brasil no meio de outubro de 2015, com este site e o grupo local de São Paulo (capital). Três meses depois, o movimento está evoluindo num passo firme: muitas pessoas estão chegando e já há outros cinco grupos pelo Brasil!

Agora, preciso viajar para o exterior para continuar meus estudos por um longo período, mas assim que voltar estaremos juntos de novo.

Esse foi o trabalho voluntário mais interessante que já fiz.

Meu plano era apenas contribuir para a divulgação da importância de todos cultivarmos valores positivos, independente de crenças ou descrença — como diz o Dalai Lama, isso é algo que realmente está faltando no mundo, é uma área onde há muito trabalho a ser feito. Não tinha expectativas sobre um benefício pessoal para mim. A grande surpresa é que talvez eu mesmo tenha sido o maior beneficiado nesse processo!

Mesmo que as maiores expectativas não se cumpram, o pequeno trabalho que já pudemos realizar juntos traz uma satisfação imensa: relaxando um pouco meu egoísmo, aumentando o sentimento de uma vida com propósito, compartilhando as coisas boas, trazendo aquela alegria mais duradoura etc.

Enfim, posso recomendar a todos que façam algo parecido, não necessariamente na Ação, mas algo que contribua para um bem maior, além de nós mesmos. Garanto que não se arrependerão!

Até a próxima!

Emersom Karma Könchog

Imagem no topo: Kristina Litvjak, CC0.

Não acreditar em nada ou cultivar nossa humanidade?

andre-comte-sponvilleSegue abaixo um trecho do livro “The Little Book of Atheist Spirituality”, em que o filósofo contemporâneo francês André Comte-Sponville fala sobre o perigo de abandonarmos a fidelidade aos valores e sobre a importância de cultivarmos uma ética secular (uma das mensagens principais do movimento Ação para Felicidade). Vale notar que o autor não está criticando a religião nem louvando o ateísmo, pelo contrário: diz que mesmo pessoas sem religião podem se beneficiar da ética em que as religiões também se baseiam.

… O que sobra do Ocidente Cristão quando ele deixa de ser cristão?

Há apenas duas possíveis respostas para essa pergunta: nada ou alguma coisa.

Se acreditarmos que nada sobra, então podemos muito bem jogar logo a toalha. Não teríamos mais nada com que fazer oposição tanto ao fanatismo vindo de fora, quanto ao nilismo vindo de dentro — e, contrariamente ao que muitas pessoas pensam, o nilismo é o principal perigo.

Iríamos pertencer a uma civilização morta, ou pelo menos uma que está morrendo. Poderíamos continuar vendendo carros, computadores, filmes e videogames, mas essas atividades seriam sem sentido e não durariam muito — porque a humanidade não mais seria capaz de se reconhecer nelas, ou considerá-las um motivo suficiente para seguir vivendo e lutando; dessa forma, seríamos incapazes de resistir ao desastre (ideológico, ecológico ou econômico).

A riqueza nunca foi suficiente para criar uma civilização, muito menos a pobreza. Civilizações requerem cultura, imaginação, entusiasmo e criatividade, e nada disso vêm sem coragem, trabalho e esforço. “O principal perigo que ameaça a Europa”, como Edmund Husserl colocou, “é a fadiga”. Boa noite, crianças; o mundo Ocidental agora decidiu substituir a fé pela sonolência.

Entretanto, podemos também acreditar que algo sobra sim quando o Ocidente Cristão deixa de ser cristão. E já que o que sobra não é mais uma fé em comum (porque isso já deixou de ser comum — 50% da população francesa hoje é ateia, agnóstica ou não-religiosa; cerca de 8% é muçulmana, e por aí vai), então só pode ser uma fidelidade em comum, ou seja, uma ligação compartilhada com os valores que herdamos, e que — para cada um de nós — pressupõe ou exige o desejo de passá-los adiante.

Acreditar ou não em Deus é uma questão crucial para os indivíduos. Mas para os povos, isso não é o principal. O destino de nossa civilização não pode depender de uma questão que é objetivamente impossível de solucionar! Há questões mais importantes, mais urgentes com que precisamos lidar. Na verdade, mesmo para indivíduos, a questão da fé não deve eclipsar a questão mais crucial da fidelidade.

Eu realmente desejo submeter minha consciência a uma crença (ou descrença) que não pode ser verificada? Eu realmente desejo obter moralidade à partir de minha metafísica e medir minhas tarefas de acordo com minha fé? Isso significaria abrir mão de uma certeza por uma incerteza, uma humanidade que de fato existe por um Deus possivelmente existente. É por isso que às vezes gosto de me descrever como um ateu devoto. Sou ateu, já que não acredito nem em Deus nem em qualquer poder sobrenatural, e ainda assim sou um devoto, já que reconheço meu lugar dentro de uma história, tradição e comunidade específicas: os valores greco-judaico-cristãos do mundo ocidental.

Minha adolescência me preparou para isso. Eu era cristão, como já mencionei, mas não passava todo tempo estudando o catecismo. Nessa fase de minha existência, a pessoa que mais me ensinou sobre ética — mais do que qualquer padre e, por muito tempo, mais do que qualquer filósofo — foi o cantor Georges Brassens. Todo mundo sabia que ele não acreditava em Deus, embora sua ética, ao mesmo tempo em que não concordava com o Vaticano carregava a marca dos Evangelhos e continuava essencialmente fiel a eles, trazendo o que o filósofo Jean-Marie Guyau descreveu como uma ética “sem obrigações nem punição”. Talvez as canções de Joan Baez, Woody Guthrie e dos Beatles tenham tido papel similar no mundo de língua inglesa.

Outro importante mentor em minha vida foi Montaigne, embora tenha demorado um bom tempo para descobri-lo. Se ele acreditava ou não em Deus é um ponto de debate entre especialistas. Ele mencionava mais Sócrates do que Abraão, mais Lucrécio do que Jesus. Acima de tudo, ele ensinou a liberdade. Isso não o impediu de, ao discutir questões morais, citar o Genesis (“a primeira lei que Deus deu ao ser humano”) ou mencionar os Dez Mandamentos, “que Moisés preparou para o povo da Judeia sair do Egito”. Sua mãe, aparentemente, era judia. Talvez isso tenha o ajudado a ver que não há contradição entre fidelidade e liberdade espiritual.

O mesmo era verdade sobre Spinoza. Ele não era mais cristão do que eu sou; na verdade, ele pode muito bem ter sido tão ateu quanto eu (pelo menos, ele não acreditava em nenhum Deus transcendente) — e ainda assim ele considerava Jesus um grande mestre. Era ele Deus? Definitivamente não. Era ele o Filho de Deus? Não, isso também não. Para Spinoza, Jesus era meramente um ser humano, mas um ser humano excepcional — “o maior de todos os filósofos”, ele uma vez o chamou — aquele que melhor expressou a essência da moralidade. E o que seria isso? É o que Spinoza chama de “o espírito de Cristo”, querendo dizer que, para espíritos livres, a única lei é “justiça e caridade”, a única sabedoria é o amor, e a única virtude é “fazer o bem e viver com alegria”. Por que meu ateísmo deveria impedir-me de enxergar a grandeza dessa mensagem?

Imagem no topo: casualeye, CC0.

Amigos em São Paulo

Como disse o Otacílio nesse nosso último encontro em São Paulo, “a gente está reunido aqui para conversar sobre isso [o tema do encontro, que foi resiliência], poderíamos estar conversando sobre qualquer outra coisa [com outras pessoas e em outro lugar], mas não: decidimos nos encontrar aqui e falar sobre isso”.

Isso para mim resume bem esses encontros. Basicamente, somos um grupo de amigos que se reúne periodicamente para falar sobre como podemos fazer do mundo um lugar mais feliz (incluindo para nós mesmos). E, felizmente, estamos sempre fazendo novos amigos, também interessados nisso.

Fazer isso por si só já seria ótimo. Mas sinto-me grato também pelo amplo leque de conhecimento, principalmente científico, disponibilizado no movimento Ação para Felicidade para que possamos embasar nossas conversas e ações. E também por podermos praticar um pouco de atenção plena juntos.

Nossa maneira de encarar o trabalho está falida

(após clicar para executar o vídeo, clique no canto inferior direito para ver em tela inteira)

Nesse vídeo do TED, o psicólogo Barry Schwartz comenta sobre as raízes da maneira como encaramos o trabalho, como sendo algo inerentemente desagradável que fazemos apenas por interesse financeiro.

Obviamente, usar a maior parte de nosso tempo em uma atividade vista dessa maneira têm consequências nefastas em todos os níveis: desde a dificuldade em encontrar sentido que muitas pessoas sentem, até a desumanização em massa — a transformação das pessoas em coisas, como se fossem parafusos de uma máquina (não é esse pesadelo inconsciente que está retratado nos filmes sobre a máquina se virando contra o ser humano ou sobre gente se transformando em zumbis?).

Sobre atitudes mais positivas em relação ao trabalho, leia:

O que nos faz egoístas ou altruístas?

A diferença entre o altruísmo e o egoísmo não se deve portanto ao fato de ser eu que deseje alguma coisa, mas à natureza de meu desejo, que pode ser benevolente, malevolente ou neutra. Posso desejar o bem dos outros, como posso desejar o meu. O egoísmo não consiste só em desejar algo, mas em satisfazer os desejos exclusivamente centrados nos interesses pessoais, sem levar em consideração os interesses dos outros.

O ponto de inflexão entre altruísmo e egoísmo deve-se portanto à natureza de nossa motivação. É nossa motivação, o objetivo último que queremos alcançar, que dá cor a nossos atos, ao determinar seu caráter altruísta ou egoísta. Estamos longe de dominar a evolução dos acontecimentos exteriores, mas quaisquer que sejam as circunstâncias, podemos sempre examinar nossas intenções e adotar uma atitude altruísta.

Matthieu Ricard, “A revolução do altruísmo”.

Imagem: Jacques-Louis David, "Bélisaire demandant l'aumône".