Precisamos de um movimento para promover a ética secular

richard_layardpor Richard Layard, diretor do Wellbeing Programme do Centre for Economic Performace, da London School of Economics, e co-fundador da Ação para Felicidade.

Nada causa mais angústia do que a preocupação excessiva com o eu. Então, em uma era amplamente secular, precisamos desesperadamente de um movimento que promova um modo de vida positivo e ético. Temos professores inspiradores como o Dalai Lama, mas seres humanos frágeis precisam de encontros regulares com pessoas com as mesmas ideias para elevar e inspirar suas vidas diárias. É assim que as igrejas têm atuado — não é fácil conduzir uma vida adequada em isolamento. Quase todos nós precisamos nos encontrar regularmente com os outros para discutir e afirmar nosso compromisso.

É por isso que em 2011, fundamos o movimento Ação para Felicidade, com o Dalai Lama como nosso patrono. Pode parecer um nome estranho para um movimento ético, mas ética não é um tipo de penitência. Se refere a princípios para viver em conjunto que levam a vidas felizes e satisfatórias de maneira generalizada. Para isso, as pessoas precisam entender o que as faz felizes, mas acima de tudo elas precisam de um desejo passional de fazer os outros felizes — um espírito de benevolência incondicional.

As virtudes necessárias aparecem na maioria dos sistemas religiosos e seculares — virtudes como gratidão, resiliência, aceitação, coragem, perdão e, acima de tudo, compaixão. A novidade é que agora temos evidência psicológica científica sobre o que produz vidas que as pessoas consideram satisfatórias e recompensadoras. Com base nisso, selecionamos as “Dez chaves para uma vida mais feliz”, que nossos membros podem utilizar para refletir sobre como devem conduzir suas vidas. Afinal é a isso que a ética se refere: como viver constantemente tendo o mesmo cuidado com as coisas que devemos fazer e com as que não devemos fazer.

Então cada um de nossos membros, ao chegarem, se comprometem a “tentar criar mais felicidade e menos infelicidade no mundo ao redor”. Agora temos 60 mil membros e 350 mil seguidores online. Mas até então nosso movimento tem se baseado amplamente na web. Nós agora planejamos uma direção nova e radical, que o Dalai Lama lança nesta segunda-feira (21/09/2015) em Londres. O objetivo é formar milhares de grupos presenciais pelo mundo.

Normalmente um grupo começa com um curso chamado “Explorar o que importa”. Isso envolve oito sessões, usando uma rica agenda de materiais e vídeos online. Cada sessão começa com as evidências sobre o que faz as pessoas felizes — abordando um aspecto de cada vez, incluindo relações pessoais, trabalho, comunidade, atenção plena e acima de tudo um compromisso passional com o bem-estar alheio.

Cada vez, todos os membros decidem como, nas próximas semanas, eles vão aplicar essa evidência em ação em seu cotidiano — trazendo depois suas experiências nas sessões seguintes. A estrutura do curso pode ser vista no site do movimento. Ele foi avaliado e a reação das pessoas foi amplamente positiva, mas o mais importante foram os efeitos significativos na condição mental e atitudes pró-sociais.

Uma vez estabelecidos, os grupos continuam se encontrando regularmente, por uma hora (como, por exemplo, os Quakers ou Alcoólicos Anônimos) — com seu próprio padrão definido para o encontro, incluindo breve palestra, um período de atenção plena e um período de discussão e compromisso.

O sucesso desses grupos vai depender de líderes vindo à frente e os organizando. Nosso objetivo é tornar isso para eles o mais fácil possível. Embora iremos oferecer alguns cursos para líderes, qualquer um pode propor ser um líder e auto-certificar sua adequação e compromisso em criar um mundo mais feliz.

Hoje, como em qualquer época do passado, as pessoas estão buscando. Elas estão procurando por uma filosofia de vida e uma organização que represente isso. Elas certamente precisam de uma prática espiritual e muitos agora encontram isso na meditação de atenção plena ou técnicas semelhantes. Mas isso é um assunto pessoal.

As pessoas também precisam de um conjunto ético mais amplo que possa ser discutido com os outros. Esperamos que a Ação para Felicidade possa atender essa necessidade, e ajudar a preparar os milhares de pequenos encontros que podem fazer do mundo um lugar melhor.

Publicado originalmente no Huffington Post, em 21/09/2015.